quinta-feira, 23 de abril de 2009

Da Capadócia

Depois de uma noite quase sem dormir de tanta ansiedade (parecia uma criança em véspera de excursão) chegou a hora! Cedo, por sinal! 8:30 tinha que estar na Central do Brasil para pegar um trem. O destino, que foi surpresa por algumas semanas, já havia sido revelado e eu mal cabia em mim de tanta excitação em busca de mais uma história diferente para contar!

Só andar trem, para mim, já seria um programa! Nunca tinha pisado na Central... Em pleno feriado, depois de uma greve a base de chicotadas que estamparam todos os jornais, aquilo era uma calmaria só! "Hoje é tudo parador" já anunciava a Marilene da bilhereria. Parador significa que vai parar em todas as estações, ou seja, um city tour pelo lado B do Rio (pelo menos da janelinha).

Já cheia de dicas dadas pela manicure e por um garçom do Hotel, sabia que não deveria pegar o último vagão, que é da galera do mal, que usa drogas durante a viagem, perigo total! Tá, só que nos dias úteis. Hoje nem o vagão feminino tinha serventia.

O trem da ida foi modelo roots! Aquele bem velhinho mesmo, com direito a sanfoneiro cego como prêmio para fotografar. Chegamos em Quintino (Baixada Fluminense), Igreja de São Jorge, o santo de hoje!

Tudo vermelho! E branco! Crianças, velhos, cachorros,... De tudo um pouco! Entre a via sacra de barraquinhas pelo caminho era impossível não encher os olhos com aquele vermelhidão de fitinhas, camisetas, velas, imagens do Santo montado em seu cavalo...

Ao chegar na igreja, uma multidão acompanhava pelo lado de fora uma das dezenas de missas do dia. O calor senegalesco derretia as pessoas além das velas. A chuva de água benta servia inclusive para um refresco entre as chaves de carro, fotos de família, carteiras de trabalho, diplomas e cartelas de remédio.

A expressão de fé de cada um me contagiava e assim como as letras de Roberto Carlos surgiram da minha memória adormecida, comecei a cantar todas aquelas músicas de missa (da época que ia a missa) e ... tá bom, confesso que me emocionei. Me deu vontade de sentir um pouquinho do que eles sentiam...

Guardei minha câmera, comprei meu santinho, fitinhas e fui lá pra chuva de água benta receber um pouco de proteção e pedir para uma lista grande de pessoas queridas.

Entrar na igreja era uma missão impossível (ou de muita devoção) mas com pessoas conectadas, em 5 minutos eu estava na sacristia, e pela porta lateral, tinha a visão similar a que teria a grande imagem do Santo Guerreiro com seu cavalo branco, registrando aquelas pessoas que não medem esforços para estar ali pertinho dele.

Acabada a missa, fui pro altar. A igreja não esvaziava por nem um minuto e os fiéis pediam para os voluntários encostarem seus objetos na imagem do santo e rezavam, choravam, pediam, agradeciam, batiam palmas...

A festa de Jorge continuaria com uma procissão, que não fiquei para presenciar, e como uma boa festa carioca que se presta, ia acabar com feijoada e samba na praça do coreto! Eu tomei só uma cervejinha pra não fazer desfeita (e porque o calor pedia!!).

Missão cumprida, energia recarregada, e mais uma experiência daquelas que vão demorar para desgrudar da retina!

"Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. "

Salve Jorge!

4 comentários:

Bro disse...

Uhuuuuuu!! Adorei! Salve Jorge! Ogunhê meu pai Ogum! Você está me saindo melhor do que a encomenda hein? Bjs orgulhosos!

Wilson disse...

e nem deste... putz!!!

Anônimo disse...

Querida Anna,

Seria esse o fundo musical ideal para esse post:
http://www.youtube.com/watch?v=CAvD_AIAoE0

Beijos e Bom Finde!!
JC

PS:Qdº apareces?? Em maio??

UrbAnna disse...

Parece que eu vi todas as imagens conforme ia lendo suas descrições...
Beijo
urbAnna