sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

No Limite

Das aventuras que vivi no Carnaval, ficou a dúvida se conto em tom tragicômico ou em lição aprendida. Vou tentar misturar as duas versões, e as duas histórias em uma só. Não se assustem pois não foi uma viagem perrengue. Foi ótima e até esses percalços foram divertidíssimos.

Afinal, o que é uma pessoa senão as histórias que ela tem para contar?

No Limite 1

Passeio de barco. 9:00. 7 pessoas. Destino: Ponta do Corumbáu. Café da manhã ainda no estômago e o ritmo da traineira me deixando verde. Não podia vomitar ali, na frente de todo mundo... Olhava para o céu, para o mar, para o continente, para o marinheiro, para os companheiros, tirava foto, e assim consegui chegar intacta depois de duas horas sacolejando.

O lugar, paradisíaco. Maré baixinha. Um braço de areia invadindo o mar. Fotos, mergulho, e na hora marcada, todos de volta ao ponto de encontro, incluindo o marujo que resolveu trazer o barco mais para perto já que a maré tinha subido e a ponta de areia, sumido.

Até que... o sinal de negativo do comandante deu a notícia: motor queimado. Minha informação constava que só era possível chegar lá por ar ou por mar! Logo, só restava a segunda opção já que éramos 7.

Prova do líder: quem é que vai conseguir tirar a trupe da ilha de Lost? Uma dupla sai em busca de uma solução, com 20,00 na mão e um celular sem sinal. Eu parto em seguida atrás de um guia com um grupo que ia para Comuruxatiba (sei lá se o nome era esse!) mas me deu a dica que era para procurar o Alexandre no Restaurante Panela de Barro que tinha uma escuna que ia para Porto Seguro.

Antes de chegar no restaurante, encontro com a dupla #1 já negociando com um barqueiro, depois te ter corrido atrás do mesmo Alexandre sem sucesso. A nova traineira, Arco Íris, nos esperava. Resgatamos os outros membros do reality show, as bolsas no outro barco e às 4 da tarde partíamos de volta para casa.

De estômago vazio, fico verde de novo. E vermelha, já que essa parte da missão foi sem boné, protetor, roupa, nada!

No meio do caminho, resolvo perguntar ao garoto que pilotava a geringonça por que ele estava tão longe da costa já que na ida tínhamos beirado o continente. A resposta não podia ser melhor: o barco não tinha licença para passeio. Sem nenhuma esperança na resposta positiva, perguntei se tinha colete salva-vidas. Claro que tinha! Um só! Vamos rezando então! Pai nosso que estais no céu...

No Limite 2

O dia seguinte amanhece um pouco nublado e resolvo ir do Espelho até Caraívas caminhando. 1o km pelas praias com uma trilha pela falésia no caminho. 2:30. Totalmente viável. Mas o gerente da pousada não recomendou que eu fosse sozinha.

Surgem duas paulistas prestes a sair com o mesmo objetivo. Me convidei para ir junto e pé na tábua! As duas andavam bem rápido apesar de serem gordinhas. Uma hora depois estávamos perdidas. Tinha passado a entrada da trilha e chagamos numa falésia que não dava para atravessar. Meia volta, volver!

Encontramos a placa que indicava a subida. Hesitei em continuar. Disse que ia desistir e voltar para o Espelho. As gordinhas me desafiaram. Agora era uma questão de orgulho! Não podia deixar por menos.

Ainda na subida da trilha já tinha me arrependido. Meus pés, descalços, ardiam. As havaianas atrapalhavam mais do que qualquer coisa. Chego no fim da trilha preocupada. Ainda faltava pelo menos 1:30 e não sentia meu pés.

Sugeri que a dupla fosse na frente, no ritmo delas, mas que de vez em quando olhassem para trás para ver se eu estava viva. Imprimi um passo tartaruga naquela imensidão de areia, mar e céu azul. As nuvens sumiram e o sol ardia, não mais do que a sola do meu pé.

A essa altura, as havaianas melhoravam um pouco a situação. Areia fina, areia grossa, areia quente, areia fofa, areia que não acabava mais. Uma esfoliação extrema!

Me arrastando cheguei na Barraca do Satu, que na teoria ficava a 40 minutos do destino final. Paramos para uma água de coco e um mergulho. Quando analisei o estado dos meus pés, me assustei. Bolhas, enormes, vermelhas, assassinas.

Não tinha solução. Impossível voltar, impossível pedir um Amil Resgate, um taxi, um barco, um cavalo, um anjo, qualquer coisa... Absolutamente nada passaria naquele lugar para me salvar. Começou então o trabalho psicológico da luta da mente sobre a dor.

A visão não alcançava nada com cara de ponto de chegada. Olhava para o chão para não me desesperar. Me arrastava. Não conseguia dar dois passos seguidos. Deixava pelo caminho pedaços de pele que se misturavam com a areia. O peito do pé tatuado pelas alças das havaianas. A cabeça dando voltas. Já não enxergava mais as duas andarilhas com pés de ferro.

Eis que surge a luz no fim do túnel, ou melhor, o fim do deserto molhado. Faltava pouco mesmo, mas foi justamente nesse pouco que a bolha estourou. A água salgada fez arder e a dor que eu negava estar sentindo subiu pela perna vencendo a mente nos metros finais. Chorei como uma criança. As paulistas me davam parabéns, que eu era uma vitoriosa, uma guerreira, e me faziam chorar ainda mais.

Foram mais 3 passos para entrar na canoa que fazia a travessia do rio e depois mais uns 15 até chegar em uma pousada que me deu uma banho de água doce e fria, um curativo e uma cachaça. Uma não, duas!

Estava pronta para ir embora. De carro. Essa era, finalmente, uma opção. Mas antes tinha que fotografar esses vilarejo ribeirinho com índios, charretes e pescadores mirim. Rústico ao extremo.

Todo e qualquer sofrimento que passei até esse dia da minha vida, ficou para trás. Nada se compara a transformação que minha mente passou nessas quase 4 horas da maior prova de superação que vivi.

No Limite 3

Ainda tem mais? Calma!!!

Último dia. Não poderia deixar de dar o mergulho final. Teria que andar uns 10 metros, na areia. Fui andando pela sombra de uma árvore quando de repente dou um pulo que quase chegou no galho mais alto. Não era a bolha reclamando...

Pisei na brasa que o filho da puta do cara do queijo coalho deixou ali estrategicamente me esperando para ferrar com o outro pé!

Quarta-feira de cinzas. Ou de brasas. Hora de ir embora mesmo.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Sem muita escolha

Você comenta com o seu chefe que vai viajar no Carnaval para uma praia paradisíaca. Ele se anima e pergunta se ainda tem lugar na pousada que você vai ficar. Você:

a ( ) É sincero, diz que a pousada está lotada mas se oferece para procurar uma próxima, afinal, seu chefe é super gente fina e seria uma boa ocasião para estreitar laços com ele.

b ( ) Mente dizendo que as três pousadas da praia estão lotadas, e que vai ter que ficar para a Semana Santa. Nem pensar em passar 4 dias com o chefe, sozinho, alugando você e sua(seu) namorada(o)!

c ( ) Não consegue escapar dessa porque se mentir e ele descobrir, será pior ainda. Encara o desafio, tenta fugir dele enquanto estiver por lá e aprende a lição de nunca mais contar para onde vai viajar.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Se alguém perguntar por mim...

... fui para Maracangalha!
Volto na quarta!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Divã com bula

- Boa Noite, Seu Sérgio. Posso ajudá-lo?
- Boa noite, Ludovico. Tô precisando da sua ajuda sim. Estou com uma coisa no peito..., sabe?
- Sei... Há quanto tempo está sentindo isso?
- Olha, tem alguns anos, mas desde domingo que estou sentindo que piorou.
- Sei... Onde no peito exatamente?
- Bem aqui no meio. Uma sensação ruim, um peso, e tem horas que parece que vai explodir.
- Sei... Tem horários que piora?
- Ah, tem. De noite é bem pior. Quando chego em casa, sozinho, é que vem o aperto no peito. Chego a chorar, sabe?
- Sei... E você já conseguiu colocar alguma coisa para fora?
- Não. É por isso que eu estou aqui. É exatamente o que eu preciso. Eu não tenho ninguém, você sabe, né? Se você pudesse...
- Sei... Tenho o remédio perfeito para isso que você tem.
- Jura? Imaginei mesmo que já tinham inventado uma poção mágica para isso. Não aguento mais sofrer...
- Última novidade, lançamento do Laboratório Legrand: Expec. Tem sabor cereja e mentol. Você vai ficar muito satisfeito com o resultado.

Me diz... Pra que analista se a gente tem a DrogaRaia??

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Para Viagem

Há muito tempo tinha deixado de lado o hábito de jantar. Passou a fazer lanches rápidos sentada no sofá. Em frente a TV. A mesa, destinada à refeições em outras épocas, hoje em dia não passava de um aparador. Nem cadeiras tinha.

Também tinha esquecido o prazer de receber amigos em casa. Sua solidão era a companheira de todas as noites dentro da sua bolha. Toda louça, talheres e copos especiais estavam guardados, num armário, bem no alto e, provavelmente, cheios de poeira.

Mas aquela terça-feira seria diferente. Receberia a visita de uma amiga de infância que não havia feito parte dos últimos 20 anos da sua vida. Resolveu que faria em grande estilo, dentro do possível.

Improvisou duas cadeiras e começou a preparar o cenário. Foi até o armário de roupa de cama, onde achava que poderia encontrar uma toalha de mesa que chamasse a atenção de sua visita, mesmo não sabendo exatamente qual seria o gosto daquela pessoa que havia se tornado uma estranha.

Deu de cara com uma toalha branca, redonda, com bordados richelieu. Era ela mesmo! Vistosa. Presente de enxoval da ex-sogra.

Se posicionou e estendeu a toalha sobre o tampo de vidro da mesa. E dali, daquele ângulo, viu a sua casa de um ponto que nunca tinha visto. Ficou estática observando, congelada. Começou uma viagem no tempo.

As paredes estavam vazias. Tinha tirado os quadros e só restaram os pregos. A sombra da luminária deixava um pedaço da sala malhado. Livros, alguns lidos e outros tantos ainda por ler. O tapete, pequeno para o tamanho da sala. Os sofás antigos mas bem conservados, com almofadas que tinham ser trocadas. A televisão de 29 polegadas, ligada no Jornal Nacional.

Na estante, objetos cheios de história. Um porta-retrato com uma foto da mãe. A coleção de rolhas, todas com as devidas anotações de datas e ocasiões. Os livros de arte que ganhou de presente de uma tia, na época em que se arriscava com os pincéis. O arranjo de mesa da festa do seu casamento. Uma garrafa azul que trouxe da Espanha. Um baleiro antigo, vazio, um vaso de porcelana chinês, ambos presentes de casamento. Um presente do ex-marido, outro do ex-namorado. Um pássaro de madeira que quase quebrou na mala na volta da viagem de Portugal. Velas bastante choradas em ocasiões inesquecíveis. O galo que trouxe do Chile, a boneca do Japão, o pedacinho do muro de Berlim, lembranças de muitas viagens, algumas acompanhada, a maioria sozinha.

O interfone tocou. O Jornal Nacional acabou. E ela não descongelou. Algum tempo se passou, alguns minutos talvez, e ela percebeu que não queria mais reviver aquelas histórias. Tinha ânsia de escrever uma nova.

Pegou tudo da estante e colocou sobre a mesa. Com a toalha bordada fez uma trouxa e colocou tudo na lixeira. Exceto o porta-retrato.

E levou a amiga para jantar fora.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Estupidez sanitária

Eu queria saber quem foi a mente brilhante que inventou a lixeira de banheiro que abre a tampa com pedal!

Certamente foi um homem e que, quando senta no vaso, não usa a lixeira. Joga papel no vaso.

É humanamente impossível pisar no pedal enquanto se está sentada no vaso porque ele sempre está no cantinho ao lado (talvez curupira conseguisse) ou numa distância de pelo menos 1 metro do usuário.

E aí, já passou por isso? Faz o quê? Joga o papel no vaso mesmo ou levanta de calça arriada naquela situação ridícula para alcançar a maldita lixeirinha?

Eu jogo no vaso, xingo quem inventou e quem comprou! Rrrrrr

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Tela Quente

Deito na cama e me acomodo para a sessão de meia-noite. Os olhos se fecham transformando as pálpebras na maior e mais moderna tela de projeção do universo.

Silenciosamente, a porção fantasiosa dentro de mim, chega à blockbuster do meu cérebro para escolher a programação: curta ou longa, documentário ou ficção, comédia, romance, drama ou suspense.

A sessão começa, sem pipoca mesmo. Muitos são merecedores de Oscar. Outros entram para a lista trash de piores produções do ano. Alguns dejavu. Nunca vi! Ô imaginação! Se Freud fosse jurado da Academia...

Quando surge a pausa para o banheiro, o filme nunca recomeça de onde parou e invariavelmente dá início uma nova sessão com outro roteiro e personagens. As vezes é mais de um filme por noite. Só para confundir a espectadora aqui.

Não sei qual a explicação, mas tem dias que não passa filme nenhum. Ou o projetor quebrou, o lanterninha faltou, mas as noites em branco geram manhãs de dúvida. O que passou? Onde estive essa noite? E aguardo ansiosamente pela próxima sessão, no dia seguinte.

As sessões são solitárias, a tela individual, pessoal e intransferível. Nunca ninguém vai conseguir assistir ao mesmo filme que eu, mesmo estando ao meu lado. E por mais que eu tente contar a sinopse depois, muito detalhes fogem e a experiência não pode ser dividida da mesma maneira.

São filmes que eu jamais vou sonhar de novo. Apresentações únicas, sem trailler, replay, nem créditos finais, muito menos agradecimentos!

O melhor de tudo é acordar e lembrar de tudo. Ou não lembrar de nada.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Alalaôôôô

Está aberta a temporada infernal dos blocos de Carnaval no Rio de Janeiro. Infernal para quem, como eu, não gosta da folia de Momo, como eu já contei no ano passado.

Não suporto essa necessidade de pular e "ser feliz" com data marcada. Ter que entrar na onda uma vez por ano. Para mim, isso é coisa que se deve fazer o ano inteiro (não serve micareta). E não dever ser embalada ao som de marchinhas, sambas, axé, frevo e afins.

Show de rock para mim é Carnaval! Estar com pessoas queridas, animadas e tomar um porrinho, nem que seja dentro de casa, é Carnaval! Sorrir o ano inteiro é Carnaval! Jogar ping-pong e cantar Little Joy é Carnaval! Pôr do sol é Carnaval!

Respeito quem gosta de Carnaval (esse aí de Fevereiro) e desde já desejo que divirtam-se muito!!! Eu vou ficar com meu Carnaval fora de época nos 10 meses seguintes e todos vocês são bem-vindos!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Drops

Descobri que jogar ping-pong é igual a andar de bicicleta!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Relação Gramatical

E a vontade de transformar tudo em palavras é mais voraz do que a velocidade em que as vogais se apresentam na minha mente. A mente consoante, que não mente, é transparente. Mente com acentos de antigamente.

E como se um dicionário fosse desfolhado na minha frente, os sujeitos, substantivos, adjetivos, verbos e advérbios desfilam, esperando serem escolhidos para protagonizar a próxima sentença.

E o protagonista é sempre o mesmo sujeito, oculto, indeterminado, em busca de um artigo, indefinido que lhe apresente à altura.

E mesmo sem concordância, os coletivos se separaram, o plural se transforma em singular e o por que vira porque.

E os encontros vocálicos se tornam cada vez menos frequentes, sem trema nem drama, formando um hiato que nenhuma gramática consegue entender.

E o verbo é sempre transitivo, algumas vezes indireto, conjugado de acordo com o tempo, mas nunca chega a hora do ponto final. A interrogação permanece ao terminar cada oração.

E a sentença é engolida, apagada, pela mesma mente, com a mesma velocidade que chega, antes que o lápis possa tocar o papel e registrar o futuro do pretério perfeito.