domingo, 18 de maio de 2008

A maratona "Zen" fim

Minha fase "aberta a novas experiências" me levou longe demais dessa vez. Fui convidada pelo meu personal para participar de um retiro nesse fim de semana. Um retiro de meditação e yoga. Mesmo nunca tendo feito uma aula sequer de yoga, ele me convenceu dizendo que ia ser bem light, mais sobre auto-conhecimento, ... Que de noite ia rolar um vinhozinho, comida caseira, etc. Um fim de semana na serra com gente bacana e um pouco de atividades.

Na sexta, saí mais cedo do trabalho porque não queria pegar a estrada a noite, sozinha. Não sabia muito bem o caminho, apesar de munida com um mapinha. O desafio começou aí. Ainda saindo do Rio, encontrei alguns obstáculos que tentei que fizessem me voltar. Primeiro o trânsito. Mas logo passou. Depois começou a chover. Mas logo passou.

Na estrada, já de noite, tudo ia bem, música boa no som... Até que cheguei na parte desconhecida, depois de Araras. Eram 12 km numa estrada sinistra, sem luz, sem sinalização e sem nenhuma alma viva. Quando surgia do nada um carro atrás de mim, podia jurar que ia ser assaltada, esquartejada e ninguém ia me achar (síndrome de quem vive no Rio). O celular parou de pegar e me perdi umas duas vezes. Quase voltei dali, mas já tinha ido tão longe que não podia desistir.

Depois de muita adrenalina, cheguei no tal sítio. Só 3 pessoas tinham chegado e já nos papos iniciais percebi que entrei de gaiata no navio. Todos estavam fazendo uma dieta de preparação durante toda a semana comendo SÓ arroz integral, molho shoyo e chá. Que a partir daquele momento todos ficariam em jejum. Ainda bem que eu tinha parado no Pavelka no caminho e comido 3 croquetes e tinha comigo um pacote de Passatempo salvador de vidas e uma barrinha de chocolate.

Quando chegou o resto da turma, éramos 18 no total. Sentamos em círculo e cada um foi se apresentando, dizendo quanto tempo praticava yoga e quais eram as expectativas para o encontro. Na minha vez, tratei de pedir desculpas e esclarecer que nunca tinha feito yoga, que não tinha feito a dieta do arroz e que não sabia o que estava fazendo ali.

No final da apresentação, depois de tomar um cházinho, fomos informados que as atividades no sábado começariam as 05:30!! Achei que era sacanagem, mas não era. Então, já para a cama!

Como fui a segunda mulher a chegar tive direito a uma cama, já que 9 mulheres iam dividir 2 quartos. Um acampamento de colchonetes. Todo mundo levou edredon, saco de dormir, toalha de banho, só eu desavisada não tinha o equipamento básico de sobrevivência. Na minha mala tinha sim secador de cabelo, revistas, livro, biquini, baralho,... Dormi com um lençol cobrindo a cama e um cobertor cobrindo a pele. Na verdade acho que não dormi. Passei a noite pensando como é que eu ia aguentar e o que me esperaria no dia seguinte.

As 05:30 em ponto começou a tocar aquelas músicas zen e todo mundo foi se levantando, se vestindo e saindo do quarto. Quis ficar por último para tomar banho (não rolou porque a água era fria) e tomar meu café da manhã (3 biscoitos) escondida no banheiro.

O dia começou com a leitura e discussão de um texto (meio cabeça para o meu gosto), alguns exercícios de yoga (que foram feitos rápido demais para eu acompanhar) e um outro exercício de abaixar, levantar, respirar, focar numa árvore, abaixar de novo, levantar de novo, respirar de novo, focar numa árvore de novo, durante 20 minutos. Quando achei que tinha feito coisa pra caramba, olhei no relógio e ainda eram 9:40! O dia ia demorar para passar.

Nessa hora rolou a parte do vômito. Isso mesmo. Lavagem estomacal. Todos beberam 2 copos de água, enfiaram o dedo na garganta para vomitar. Claro que eu não fiz isso e nem fui participar. Eles desceram para vomitar no riacho e eu fiquei na casa pensando como ia aguentar tudo aquilo. Soube que de manhã cedo eles fizeram a lavagem intestinal também...

Quando acabou, me chamaram para descer, e depois de mais um bate-papo sobre chacras, deu início a lavagem nasal, onde você coloca o soro por um buraco no nariz e sai pelo outro. Esse eu topei fazer porque tinha visto o Dr. Oz na Oprah outro dia falando que isso era ótimo para quem fica muito no ar condicionado, poluição,... E realmente é muito bom! A gente respira muito melhor. Recomendo!!

Com o nariz limpo, óleos essenciais para inalar. E chegou a vez dos Pranayamas, que são os exercícios respiratórios (essa parte foi boa porque foi ao ar livre, na grama). Respira forte 54 vezes tampando uma narina, depois 54 vezes com a outra. Saudação ao sol 24 vezes (uma para cada hora do dia). E voltamos para dentro da casa. Dessa vez para a lavagem dos ouvidos! Uma mega seringa (sem agulha) com água injeta com pressão e limpa fundo! Não fiz porque prezo minha audição e uso cotonete quase compulsivamente.

Exercícios de bater palma, de imitar o mestre, blá, blá, blá. 13:10 ainda!! Pausa para um relaxamento. Cada um deitadinho no seu tapetinho ou colchonete e um CD com aquela vozinha tranquila vai te levando para uma meditação. Claro que eu dormi! estava caindo de sono e de tédio. Uma sinfonia de roncos na barriga de fome de todo mundo que levava a sério a história do jejum. Eu comia um biscoito escondida entre uma atividade e outra.

Agora chegou o pior momento para mim. Dali deitados onde estávamos, formamos duplas (homem com mulher). Quem estava do meu lado e imediatamente se intitulou minha dupla, era uma figura parecida com o Professor Girafales (aquele do Chaves). Muito simpático mas feio pra burro! Enorme de alto, ele vestia uma calça de moletom vermelha com as meias azuis por cima da barra, prendendo a perna que devia ficar pescando siri. Ninguém sabia para que eram as duplas (se eu soubesse tinha simulado uma queda de pressão ou dor de barriga para fugir!)

O professor mandou um deitar (ele foi primeiro) e o outro (eu) sentar no meio das pernas dele, que me "abraçaria" com as pernas. Com um potinho de óleo aromático ao lado, eu tive que fazer uma longa massagem nos pés do "Girafa-les". Vocês não imaginam o sacrifício que foi! Um nojo! Eu evitava olhar mas as unhas dele eram enormes! Pensava na morte da bezerra para não lembrar do que estava fazendo. Massagem é uma coisa muito intima ainda mais no pé! Depois ele teve que me retribuir a massagem e de tão tensa agora preciso é de uma massagem nos ombros!

15:30... A atividade que veio em seguida é difícil de descrever. Era uma música de flauta, com 4 "frases" que foi repetida até a exaustão e que envolvia fazer movimentos com as mãos no tempo da música, com barbante, com a mão esquerda, indo, voltando, subindo, descendo e parei!

Fui para o quarto e desabei de chorar! Não aguentava mais! Não fazia sentido para mim. Estourei, explodi, enchi,... Queria ir para a minha casa, ver televisão, ir ao cinema, andar na praia, falar no telefone, tomar um banho, deitar na minha cama, comer, ... Mas não sabia como ia fazer isso! Estava com vergonha de simplesmente pegar a minha mala e ir embora! Todos foram tão legais comigo. Ali fiquei chorando e pedindo que alguém viesse atrás de mim e que eu pudesse falar.

Do quarto continuava ouvindo a música da flauta e cada vez que ela recomeçava eu voltava a chorar. Foi assim por meia hora, até que ouvi que ia ter uma pausa até as 18:00 e que cada um poderia fazer o que quisesse: caminhar, ler, dormir,... mas em silêncio, sem falar com ninguém. Uma das minhas room mates entrou no quarto e conversei com ela que queria ir embora e ela chamou o professor que tentou me convencer a ficar mas sem sucesso.

Peguei minha mala e a mesma estrada sinistra da ida pareceu o paraíso na volta! Que alívio. Cheguei em casa, pedi um bife com batata fritas e farofa de banana, tomei um banho quente e as 21:15 eu estava na cama! Exausta em todos os sentidos.

Valeu a experiência. Valeu aprender que cada macaco no seu galho. Valeu aprender que não sou nada zen. Valeu matar a minha curiosidade. Valeu conhecer pessoas diferentes. Valeu mais ainda voltar para a minha casa e curtir um domingo de muito sol!!!

Fim

Desculpa se ficou muito longo mas não dava para resumir muito essas longas 24 horas! E parabéns por ter chegado até o final. Eu não consegui...

9 comentários:

Marcela Cerqueira disse...

Ai, que pânicoooo! Não consegui parar de ler porque estava ficando angustiada com a sua experiência. Mas é bom sabermos que cada qual com seu cada um né? Hahahah

Rodolfo Barreto disse...

Agora eu entendo porque os meus amigos não vêm me visitar em São Paulo.

RM disse...

KKKKKK Ai que inveja do Girafales... KKK

Wilson disse...

Perguntinha que não quer calar...

Qual será a punição pro seu personal?

Prisão perpétua, ou cadeira elétrica???

g-a-r-g-a-l-h-a-d-a-s!!!

Paulo Mello disse...

Gargalhadas, suspense, nojo, risos. Não teve como parar de ler e ver até onde você iria.
Não consegui imaginar você fazendo essa viagem ao centro do inferno zen.
Na próxima vez que não tiver nada mehor pra fazer marcamos uma longa jornada de War ou um baralhinho.
E quanto ao seu personal...

UtópicA disse...

caraleooooo, mto surreal essa aventura! Putz, só vc mesmo!

Bjs pra vc, "Dona Florinda"!

Catarina Chagas disse...

Minha mãe do céu. Se te consola, eu teria ido embora logo na parte da lavagem estomacal.

Brunno, disse...

Divino!
Adorei... Se bem que não sei. Me deu nojo de imaginar o unhão de garra do Prof. Girafales.... hummmmm... que podre!!!!!

ANNA disse...

Obrigada pela solidariedade de vcs!!

Quanto ao personal, me mandou um domingo contando que o domingo foi recompensador!! E eu eu contei para ele que o meu domingo foi muito mais compensador, com sol, na praia, meditando no Arpoador...

Amanha eh dia de encontrar com ele pessoalmente!

Valeu! Beijos!