quarta-feira, 3 de setembro de 2008

De algum lugar para lugar algum

Então você me pegou pela mão. Disse que ia me levar para a viagem das nossas vidas. Finalmente íamos para aquele lugar mágico que tanto sonhamos, onde podemos ser felizes sem culpa, onde o sol brilha todos os dias, e a chuva cai na hora que pedimos. Onde podemos fazer o que quisermos na hora que der vontade.

O Paraíso. Esse era o destino combinado.

Você fecha meus olhos com uma venda e me senta no que eu acredito que seja um carro, e diz "Confia em mim. Vai dar tudo certo." Eu tenho um pouco de medo, mas, de tanta excitação de finalmente ir em direção ao sonho tanto sonhado, começo a curtir a viagem.

Percebo até o vento em meus cabelos. Colocamos uma música boa. Eu confio em você. Sei que estará ao meu lado e apesar dos olhos vendados, acredito que você não deixará de me contar como é a paisagem no caminho. As bonitas e as feias. "Você vai me contando, tá?"

Algum silêncio depois me vem a sensação quase infantil de que está demorando muito para chegarmos. Eu te pergunto onde estamos, quanto tempo falta, se vamos chegar à tempo do pôr do sol... Nenhuma resposta. Ouço um silêncio. Não sinto o calor do teu corpo no banco ao lado.

Começo a perceber que não estou em movimento. Sinto que estou sozinha e não faço idéia de onde. Tenho medo de tirar a venda e descobrir que não sai do lugar. Que o início da viagem foi ilusão. Que a promessa foi sincera e a intenção mais uma vez foi de coração. Na prática, o plano não foi colocado em prática.

Vou ficar com a venda nos olhos mais um pouco. Quem sabe você não aparece para me explicar o que houve, por que não fizemos a viagem, ou por que paramos no meio. Se é que caminhamos alguma coisa.

É melhor eu ficar um pouco mais com os olhos fechados. Não posso tirar a venda bruscamente e me cegar com muita luz e verdade do lado de fora desse carro. Isso é um carro? Uma nave espacial? É confortável mas acho que não quero ficar aqui nem mais um dia. Preciso de mais espaço. Meu corpo está começando a doer. Há quanto tempo estou aqui? Perdi a noção.

Me faz um favor, quando você voltar? Desamarra a minha venda? Está incomodando. Eu prefiro lidar com isso tudo enxergando.

5 comentários:

Rodolfo Barreto disse...

Excelente. Muito bom mesmo, de verdade.
E que os ciscos caiam nos olhos.

mc disse...

Maravilhoso! Adorei.
bj

Isabella Zappa disse...

nossa... muito bom!
também prefiro andar sem as vendas nos olhos, olhando pro destino, mesmo que ele esteja longe. Tudo dito. me identifiquei bastante...
bj

Anônimo disse...

Clap, clap, clap!
Amei o texto!!!

UrbAnna disse...

Adorei o texto, Anna!
As vezes nos colocam vendas e nós gostamos da idéia momentaneamente... Mas elas não podem durar para sempre, isso não funciona!
Beijo
(urb)Anna